quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O que é isso minha gente?


A eleição está chegando e no horário político não se vê debate político, o bom debate das idéias, dos projetos em disputa, dos rumos que o Brasil e o Estado devem seguir. O debate das propostas e dos projetos de desenvolvimento que cada candidato defende para garantir a qualidade de vida e o bem estar da população.

As idéias, os projetos e o debate político foram substituídos pela contagem das obras físicas realizadas. Quem fez mais obras é o que importa. Aquilo que era 40 escolas vira 1200 obras; uma reforma vira uma obra; a troca de uma lâmpada, mais uma obra. Até enterrar um morto e cortar a grama do jardim já viraram obras. O asfaltamento de uma estrada de 10 km vira milhares de quilômetros de asfalto realizado. São tantas obras, mas tantas obras, que se fossem verdadeiras a gente tava ferrado. Ainda bem que a maioria delas é obra de ficção, de computador.

Fazer obras é obrigação de todos os governantes. O dinheiro é público, é o nosso dinheiro, o dinheiro dos impostos. Eu nunca vi algum político fazer alguma coisa para o bem do povo com o seu próprio dinheiro. Vi sim, muitos deles fazerem obras superfaturadas para desviar o dinheiro público. Ficarem ricos no cargo. Você sabe disso, você conhece muitas denúncias deste tipo. Uma árvore de Natal, a reforma de uma Câmara de Vereadores, um hospital novo nem inaugurado e já tá velho, a mesma empresa fazendo diversas obras ao mesmo tempo, todas atrasadas, uma merenda escolar privatizada mesmo com o Tribunal de Contas recomendando contra, um ginásio de esportes que caiu logo após a inauguração. Será que tudo isso é mera coincidência?

Pois é, os marqueteiros transformaram o marketing político em marketing de obras. Onde ficam as idéias? O candidato que nunca governou, que é candidato pela primeira vez, já está excluído de cara. Coitado, que obra física ele pode ter realizado? E assim, como no BBB, fica eliminado de cara. Mesmo que tenha grandes e boas idéias.

Na próxima eleição eu sugiro incluir a obrigatoriedade condicional para ser candidato: o candidato deve ter no currículo no mínimo 1000 obras realizadas. Quem não fez essa “merreca de obra” que nem se aventure a ser candidato, afinal ele já começa derrotado.

O que mais me impressiona é a passividade da sociedade, dos movimentos organizados e principalmente dos meios de comunicação e seus colunistas políticos diante de tanta barbaridade. Cadê a vigilância apregoada pelos meios de comunicação? Vocês estão calados, estão sem assunto político para comentar? Não tem debate político no horário político e vocês não dizem nada?

Até o judiciário está protelando o julgamento de candidatos e a publicação dos acórdãos já julgados para proteger candidatos ficha suja e ninguém diz nada. Será que é isso o que queremos? Será que é isso que a sociedade espera de nós? Como podemos reclamar que o eleitor não está assistindo o horário político? É lógico, não tem política no horário político. Bravos são aqueles que perdem o seu tempo na frente da TV ou do rádio contando obras, identificando quem mente mais, quem engana melhor.

O povo é sábio, vai distinguir quem é quem na arte de mentir, de fazer teatro de realizar obras de ficção.

Minha última sugestão: mudar o nome de horário político eleitoral para “horário obral eleitoral” - fica mais verdadeiro.

Infelizmente esta é a realidade do momento eleitoral. Mas nem tudo está perdido, sempre tem alguém que consegue furar o cerco “obral” e fazer política, apresentar suas idéias, cativar o eleitor e vencer a eleição.

João Ghizoni

Candidato a Senador pelo PCdoB em Santa Catarina

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